domingo, 23 de dezembro de 2012

Viver sem tempos mortos

A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.


( Simone de Beauvoir)



domingo, 18 de novembro de 2012



Os momentos de idas e vindas são sempre felizes e não ousaria deixar cair uma única lágrima e nem me hesitar de sair apressadamente e para o cantinho da esquina para ter certeza de que partiria bem. Todos os amores são verdadeiros só que uns são mais que outros.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sem esforço
consigo ver seu tic nervoso com (ou sem) 
relógio





Para a grande pequena longe,
de longe

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Porque aquele bar tinha que ficar logo em frente daquele hotel?


enquanto eu viro
um copo de copos
e olho para aquela janela
lembro do quarto por depois,
a cama, o cobertor, o calor...
sinto o cheio do amor
que há ali daquele dia em diante
Sinto o cheiro, a vontade
lembro da vontade pelo teu cheiro
sinto o primeiro beijo
novamente e novamente e novamente.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Queijo tipo minas frescal

Se o leite é adulterado ou clássico
Quando morde ta amargo
Amargo ninguém quer
Quem que gosta de amar...go?
Deram-me a faca e o queijo!
... uma boa faca para um péssimo queijo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Na lata



Sou filho do homem e da mulher e irmão do rapaz que é o filho de seus pais. Meu irmão tem os olhos da mãe e as feições do pai, já eu tenho cara de lata de lixo com face enferrujada e caráter de sobra, sobras. Maldita "cultura" que de culta não tem nada. Sou filho bastardo, parente do diabo e de ouro nem pintado.


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Jon Snow sinta-se contemplado.

sábado, 25 de agosto de 2012

Legítimo


Vivemos A história de amor em caminhos paralelos
Caminhos que não se tocam
E que talvez nunca se tocarão
Pelos laços do “para sempre”
E se isso acontecer
E daí?
Não serei utópica de contos de fraldas...
No fim eu vou ver só o resto do que se foi
Só restará o resto
Resto esse que indo ao contrário da pejoratividade desta palavra
Terá e tem o seu devido valor
E assim, viveremos ainda
Felizes para sempre.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Do tempo pro tempo


Eu tenho 99 anos e estou na flor da idade. Ainda tenho dentes na boca, um coração batendo e um monte de alegria para negociar, por que se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que a gente não dá, a gente troca. Bom, hoje eu venho contar uma triste revolta. Eu fico impressionada como que ainda tem gente em pleno século XXI  que ainda não sabe ler. Eu estava dando mais uma volta hoje cedo, olhando as ruas, os carros coloridos, as pessoas que correm tanto... Eu não sei para onde correm, por que correm, e nem COMO correm, menina! Pois bem, me lembrei, meu amores, que hoje era o dia que saia a tal da aposentadoria, pensei logo “É hoje!”. Já estava imaginando para onde eu iria com aquele voluminho entre os seios... Iria ao salão, comprar maquiagem, fazer as unhas, comprar o perfume que o meu veinho endoida e, é claro, aquele docinho de goiaba. Pois bem, entrei no caixa da plaquinha com meu compadre com uma bengalinha e cheguei para pegar o tal dinheiro naquela máquina – Máquina inteligente! - pensei. Aperta ali, mexe ali, abre a bolsa, aperta as letrinhas, olha pro lado pra ver se não vem um bandido, fecha a bolsa, enfia o cartão e pronto: A máquina não sabe ler... Como assim? Como assim nossa senhora de todos os santos? Em pleno século XXI... Os homens não levam jeito para a modernidade...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Mito de Panriso


Quem dera foste tu, Pandora
A pan dos sorrisos
Sorrisos de vários tipos
                [tipo cores, tipo verdadeiro sorriso
Quero ser a Panriso
Quero dar pane de tanto riso
Quero que se exploda o mundo
                [dos sorrisos
e que dele caia o que há nesse mundo de mais precioso
O meu, o seu, o nosso
Sorriso.


quinta-feira, 26 de julho de 2012


"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"




Eu sempre gostei desta frase, mas só vim entendê-la depois de um certo tempo...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Um certo mundo



Num dia um alguém me falou que talvez o mundo fosse feito por pessoas. Olhei meio esguio e achei o comentário superestimado demais se não fosse o fato dele falar a mesma coisa significando outra. No prolongar do comentário e dos questionamentos, aquilo não tinha me levado a nada, apenas algumas horas perdidas de discussão e ainda naquela mesma tarde adormecemos com as xícaras do café na mão.
O céu estava azul, um azul bem cor de céu às 14 horas da tarde e havia nuvens pingadas pelos cantos e não me demorei a encostar numa pedra para achar nelas algum significado. Parecia mesmo que aquelas nuvens atendiam aos meus pedidos, quando pensava que seria legal ver um coelho andando com duas patas já saia um lindo coelho andando com duas patas e o rabinho empinado, parecendo até gente. Oras, deve ser para isso que os sonhos servem, eles nos fazem realizar desejos que nem mesmo sabemos que temos. Se sonho é tudo que a gente quer a longo ou a curto prazo. Andei. Andei e via as coisas como jamais tinha visto antes, as mesmas coisas, os pássaros que voavam em bando ou sozinhos, as flores que desabrochavam quase que alternadas dançando e o sol descia e logo mais a lua surgia e que coisa... estas tais estrelas são mesmo muito bonitas.
Quando despertei, o alguém não estava mais ali e por um momento achei que não tivesse dormido ou se dormi estava no sonho do sonho do sonho... A xícara com café ainda estava quente e por alguma razão eu entendi, o mundo é feito por pessoas, pessoas que desenham o céu e que pintam todos os azuis, que fazem os desenhos nas nuvens e treinam o dançar das flores e dos pássaros e, até mesmo, o levantar e o descer do sol incluindo também o chegar das estrelas que decoram as nossas noites com pequenos brilhos, cintilantes e ternos, até o amanhecer. E naquele fim de tarde pude imaginar o rapaz que troca a cor do azul do céu a cada segundo, indo do mais claro ao azul mais escuro, a moça que modelava as nuvens com as pontas do dedos de acordo com nossos pensamentos, o maestro que treinava os pássaros e a serelepe senhora que ensinava a coreografia das estações para as flores e, ao entardecer, o senhor meio idoso com grilos cantando em seus ombros voando e jogando confetes brilhantes que grudam no céu azul-escuro-preto da noite.


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* a ideia do conto não é de minha autoria, apenas a ousadia de usá-la :)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Poeta amador

A princípio, a paixão vinha com poesia e poemas,
a poesia virou amor e ficou sem poemas
Heresia. Heresia!

és tu, poeta
sem a arte da paixão
mais um amador
ama dor

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O bolo do fim do mundo


                                      



Depois de algum tempo o interfone tocou:

- Oi, quem aí?
- É o encanador.
- Ufa! Ainda bem que você chegou...
- Qual é o problema da pia?
- Entupida? - sorri.

     Me lembrei exatamente do dia em que tudo aconteceu e deixo uma única mensagem: não ouse fazer bolos que o prazo de validade vencerá no dia do fim do mundo, 21/12/12, bolos assim tem que morrer junto o mundo e, de fato, bolos que pegamos amor antes mesmo deles estarem prontos só nos causam dor - a saber, pias estupidas. Era uma noite cansativa e divertida. De um lado o saquinho de massa pronta, do outro a vasilha com os três ovos, duas colheres de manteiga e 250ml de leite. Aquele seria o bolo dos bolos! - pensei. O bolo mais genial e o bolo mais bolo de todos os bolos... Certamente, não haveria paisagem mais bonita na minha cabeça do que: o meu bolo do fim do mundo pronto e sendo partido para todos que na casa habitavam e a visitavam. Estaria tudo lindo se não fosse o fato de que não se deve fazer bolos com leite vencido. Debrucei-me em lágrimas sobre aquela massa injuriada. Em cada fio que ia escorrendo para dentro do ralo, cada peça da imagem ia se desmanchando. Pode alguém ficar tão triste assim por causa de uma droga de bolo com leite vencido? Oras.

- Moça?
- Opa!
- Eu vou desentupir, não precisa ficar assim. Só me diga, tem algo que você acha que possa ter causado o entupimento? Um osso de galinha? Macarrão? Até mesmo algo muito gorduroso, massa de bolo?

      Pensei comigo. Não iria denunciá-lo, não assim, para aquele homem que eu mal conhecia. Aquele ser não havia nem se quer um nome além de “bolo do fim do mundo”, ainda mais porque fui eu quem o estraguei.

- Moço, eu joguei uma massa de bolo aí.
- Explicado. Não faça mais isso.

      Fiquei ali, ouvindo aquele barulho insistente e aquela mangueira adentrando pelo orifício gigantesco daquela pia sem redinha e tentando, em vão, segurar cada lágrima que dizia que eu havia traído aquele bolo mais uma vez. Depois das lágrimas, tive que explicar ao moço a história do bolo do fim do mundo...

- Ah! Pense bem, se ele não descesse desta forma por este ralo ele desceria de qualquer forma por outro...

sexta-feira, 25 de maio de 2012


    Silênc. Silê. Sil. Eram três, cobertos por isto e afundados nisto. Silêncio era a melodia da ocasião. É o que tem para hoje. Era a frase que rodava de trás pra frente e de frente para trás nas cabecinhas enroladas dos meninos. Ora vida, ora vira. O relógio não conseguia girar mais de 360° que um gritava com os olhos: chega... Sem exclamações e com as reticências da ocasião. É o que tem pra agora, chega. E o silênc vinha e dizia que valia a pena seguir mais um pouco, mais um pouco ou até o próximo chega.
   Chega. Chega. Chega. Eram três, cobertos de “chegas” enfiados no ciclo e ninados pelo silêncio de uma canção muda. Eram três irmãos, o mais velho, o mais novo e o do meio. O mais velho desistiu do silêncio e aumentou o passo e como nunca tinha ouvido nada, só ouviu dizer por ai que existia o tal dizer, mas como nunca disse acelerou o passo. Passo. Passo. Passo. Passaram-se três giros do relógio e quem podia ouvir ouviu o barulho dos seus calçados com passadas rápidas para a eternidade.
    O mais novo aguentou mais tempo que o mais velho e menos que o do meio. Foi até o dia em que suas pernas saíram cambaleando em “S” e seus lábios desajeitados tentaram representar a esta mesma letra na esperança de que saisse uma gargalhada. Quem podia ouvir ouviu o som estridente do seu quase riso e era tão bonito que dava de se deixar cair uma quase lágrima.
    O mais novo encarou a melodia da ocasião, puxou a varinha e catou no chão as letrinhas. Por mais que aqueles símbolos não fizessem para ele nenhum sentido ele viu que b era p e que poderia ser q, se a gente virasse a cabeça. Juntou o q com o p que virou um... Multiplicou o v por dois e fez o w, depois o virou e fez um m. Já com o riso do irmão do meio no rosto ele levantou e deu os passos do irmão mais velho. É o que tem pra hoje - disse ele. Quem podia ouvir não ouviu, mas quem podia ver viu quando as suas perninhas agacharam, seus braços agarraram às letrinhas e quando o riso solidificou em seu rosto. Era tão bonito que era de se deixar cair uma lágrima. Então, o silêncio o levou para a eternidade...




quinta-feira, 24 de maio de 2012

(...) e aqui eu gostaria de ser capaz de lhe contar a metade das coisas que Alice costumava dizer a partir da sua expressão favorita: "vamos fazer de conta".

(Lewis Carrol, capítulo 1, p. 163)




segunda-feira, 14 de maio de 2012



virei o b de ponta a cabeça
com o giro caíram umas gotinhas
do tempo que passou e ficou




quinta-feira, 10 de maio de 2012

Eva



Eva, Eva
teu nome condiz com Minerva
por não lembrar pecado e sim flor
Eva, Eva
teu nome me diz leva
leva a flor

sexta-feira, 2 de março de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Então,

       Comida sempre me faz lembrar infância por mais adiante que eu tente ir nas minhas leituras. A comida em questão era um biscoito que se "chamava" redondinho, marrom e de leite. Para o menino que me fez lembrar dessa fantasia infantil era mais do que um biscoito, era especial em forma, aspecto e composição fazendo  assim uma verdadeira identidade universal dos biscoitos. Ele batia o pé falando que aquele biscoito era único mesmo tento em mãos vários irmãos bivitelinos dentro do mesmo pacote. Quem dera eu ter um pacote onde todas as coisas parecidas fossem exatamente iguais. Para ele todo biscoito que fosse redondinho e marrom seria de leite e fim de papo. Não contei no momento sobre a minha decepção biscoitiana, nem sobre o erro de se julgar sensorialmente pelo o exterior e, muito menos, que alguns biscoitos são mais assados que outros.


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Leitores, desculpem-me pela demora, a sedução marítima e a preguiça das férias me tiraram de foco.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quem faz o som, o conto e o de fadas

        
       Abri a geladeira para pensar e a fechei. Abri a geladeira para me distrair e bati a porta. Abri a geladeira pra passar a raiva e arranquei a porta. Haja porta nessa terra de meu Deus ou um copinho que caiba esse monte de nota: é fá com lá, o dó com si, mi com ré. Agora imagina se o fá fica com o dó e deixa lá o ré? Até eu ficaria com dó.
        À parte, deixe a música para mais tarde, é de presar no momento a porta. Foi por causa dela que ele entrou e foi aí que eu o pedi uma canção. Abri a porta da frente ele veio de lado me deu um sorriso e pediu o espaço. Ele é um folgado - pensei - passei a mão na vassoura e coloquei atrás da porta e a danada voou... Eu quis te conhecer pela canção, mas tive que aceitar ver em cada nota eu e tão pouco de você.
        A maçaneta sorriu e me disse para não me preocupar, que era tudo uma questão de tempo e, com uma varinha me lançou o feitiço dos sete minutos, era fá sustenido maior, sol menor com sol, dó na sétima, ré, lá com baixo em lá, mi, si, mi.. O fá me jogou um balde na cara e levou a vassoura, o sol me deu o brilho dos olhos e o ré me puxou para trás. As quatro últimas me contaram a história da Cinderela, digna de cinema, e o lá sorriu da minha cara de desacreditada e me deu um vestido. Decorei meus cabelos com as que faltavam e nos pés a clave de sol.
        Ele entrou e passou as mãos pelos meus pés e guardou as claves dizendo que era para eu não correr - consenti. Assoprou meus cabelos e elas pularam ao mesmo tempo dando piruetas pelo ar, fechei os olhos e quando os abri novamente seus dedos despejavam as últimas notas sobre meus pés descalços. Maçaneta, maçaneta, você sempre tem razão – disse olhando para a cara da danada e ele com a cara de quem não entende nada. Terminei o som e me desculpei com a geladeira. 



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¹ Quem faz o conto, o som e o de fadas (não é propaganda enganosa rsrs)


domingo, 15 de janeiro de 2012

Vitamina de banana é muito bom, é muito...


    

           Faltava era espaço para ar no meio daquele suspense calado de perto angustiante e de longe esperançoso. A gente não sabia quanto tempo tinha durado desde o chamado para o lanche até o momento do lanche. Eu nunca precisei falar muito para que meu irmão me entendesse e vice-versa, só um olhar era o necessária para sabermos que compartilhávamos do mesmo medo do mesmo fato que se repete até nos dias atuais. E tudo começava assim: Será?
       Será que teremos o quê para o lanche? Já me surgia a interrogação quando subia aquele grito materno que vinha da cozinha. Eu já colocava minha cara mascarada de pré-fezes “Será?”, então eu olhava para o lado e lá estava ele com a cara do mesmo será e com um quê de convite. Vamos? A gente sempre ia e estava tudo lá tudo arrumado em cima da mesa, tantos os copos quanto o pacote de bolacha recheada no qual seria repartido ao meio e o biscoito ímpar seria friamente dividido em dois e, é claro, a vitamina de banana com chocolate em pó. O sorriso materno e o braço apressado colocou a vitamina nos dois copos em cima da mesa, primeiro o compridinho, segundo o quadradinho e então a cena do suspense, ou do crime, se materializava.
        Eu já olhei para o compridinho com a mesma esperança que meu irmão, sabíamos que se houvessem pedaços inteiros de bananas certamente estariam no último copo de vitamina e nem eu e nem ele queríamos correr o mesmo risco, a gente não sabia por quanto tempo ela teria batido a vitamina. Eu passei os dedos pelo copo compridinho antes que os pensamentos me fizessem desistir da vitamina, ela jamais fora ruim e é por isso que sempre valia a pena tomá-la mesmo correndo o risco. E lá estava ele, meu irmão, o meu parceiro de vitaminas com o rosto desapontado e eu com a esperança nas mãos e a tristeza de não poder fazer nada por ele. Dominados pelo momento, sabíamos que não tínhamos outra coisa para fazer se não beber e bebemos. A cena do copo nos lábios só durou até encontrarmos, igualmente, os benditos pedacinhos de bananas... Fechamos os olhos para a vontade do “voltar tudo” passar e nos encontramos com o mesmo bigodinho de leite e o mesmo sorriso que dizia que não tinha sido dessa vez a vitamina perfeita.
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¹Essa não é uma história de ficção.
²Blog está de juba nova, critique (ou não) você também! ;*