Não faço a mínima idéia de como os anos se passaram e tudo que me recordava desse fato me remete a uma lembrança de uma bolinha de rolimã descendo uma ladeira, descontrolada. Eu tenho vinte e poucos anos e o que tenho para falar do meu passado, sinceramente não sei, acho que eu deveria saber se não fosse este fato, de tudo passar tão rápido, embora sem pressa. Minha cabeça, companheira de anos, ficava nisso e naquilo, quando tudo começou, ela não sentia mais fome, estava completamente enferma. E nos seus piores dias de crise eu me rasgava todo por dentro, porque apesar dela ser assim, um pouco astuta e calculista, era por si só muito sensível. Você tem a mim, tentava lhe dizer. Ela teimava, teimava... Nunca vi esquizofrênica teimosia. Você que tem a mim, ela tentava me dizer. Tola! É isso que você é, o dia é tão lindo e você prefere me acordar nas madrugadas. Eram assim nossas brigas naqueles fins de noites frias.
Eu nunca tive paciência com ela, confesso, e permanecia quieto, cravado na cama como um nome escrito no tronco de uma árvore. Ela nunca me completou. Na cama eu girava para a direita e ela ia para a esquerda e ficávamos nesse balanço até o sol brotar. Nossas brigas foram tantas, que ela parecia ter se calado de vez, e nunca me obedecia e ainda brigávamos como gato e cachorro e numa freqüência ainda maior. Ela não me deixava mais comer e meu corpo foi perdendo a umidade em horas e assim meus olhos não se lubrificavam mais, não brilhavam mais. Maldita! Aquilo tudo me parecia muito injusto, eu que nunca havia feito nada de mal a ela. E naquela noite decide dormir mais cedo e novamente meu corpo frio girava para a direita e ela para a esquerda, eu queria esganá-la e parti-la em duas bandas.
Horas. Minutos. Segundos. A cada marcação de tempo a noite ficava mais fria e cortante, meu corpo tremia cada vez mais, meus olhos ardiam como nunca e foi aí que ela quebrou aquele silêncio que havia se mantido há dias. Ela zumbia, zunia, gritava, pulsava tanto que eu pude sentir o sangue escorrendo pelo meu corpo e quando olhei para a janela pude ver o que a incomodava tanto. O sol estava brotando e pintando o céu com suas cores alaranjadas e antes mesmo que eu pudesse colocar meu orgulho em prática, puxei o cobertor e me tampei por completo e ali ficamos abraçados, na escuridão que ela tanto desejava ter e antes mesmo que ela caísse no sono eu a abracei bem forte e disse em último sussurro: Eu não sou nada sem você.
Lindooo! Ameei o texto, ameei muito..
ResponderExcluirCuidado com as dependências...
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