Eu já havia subido e descido as escadas muitas vezes: de frente, de costa e de lado. Pendurado na árvore, montado e desmontado n vezes o quebra-cabeça que ganhei do papai Noel, fiz até uma guerra galáctica contra as forças regionais entre o Buzz e o Batman e mesmo assim o dia parecia uma pedra de tão parado. Eu odeio as férias.
Se eu tivesse ido para a escola teria brincado de esconde-esconde com meus amigos, feito exercícios de matemática e namorado platonicamente a Lisa. Sim, ela era a figura perfeita para se admirar e tudo de mais nojento para se beijar, não sabia como esse ato de emaranhar na boca de outra pessoa seria algo bom. Se eu estivesse na escola eu poderia também, depois do recreio, jogar bolinhas de saliva com a caneta para grudar na saia da professora ou competir para ver/sentir quem soltava o peido mais fedido e, no final da aula, comprar picolés enquanto a mamãe não vinha para me levar para casa. Eu, pessoalmente, preferia que ela viesse. A mamãe uma espécie de super-mãe-loucamente-doida, e cantava músicas da época dela (isso quando não inventava). O papai era um sujeito muito chato e a volta para a casa era sempre um silêncio e mesmo se eu viesse com ele o simples fato de chegar em casa seria algo divertido. Bom, mas a minha realidade é outra: eu estou de férias (e isso constrangedor). Por agora eu penso que a única coisa que ainda me mantém vivo é que pelo menos esta perto da hora do almoço e que depois dele sempre tem sobremesa nas férias.
- Joãozinho!
(Será que é o almoço?)
- Oi mamãe.
- Venha almoçar, seu pai já chegou.
- O que tem de sobremesa?
- Ah, verás.
A mesa estava realmente bonita se não fosse o fato de ter feijão, arroz e aquelas folhas verdes. Eu preferiria que todo almoço só tivesse o bife e batatas fritas (perfeito, não?).
- Filho, hoje você vai comer algo novo e incrível.
- Batatas fritas doces com ketchup?
- Não, nada disso. Primeiro você tem que fazer um pacto comigo, essa nova sobremesa é uma vilã entre as crianças... E você, como é um super-herói, terá de enfrentá-la com todas as forças. Não será covarde, não é mesmo?
(Ah, quem ela pensa que é? Eu sou tão forte que poderia ser considerado um super-vilão, mas eu tenho um coração muito bom, como a vovó fala, por isso eu sou um super-herói e quando eu ver esse tal inimigo que se esconde dentro de minha casa em forma de sobremesa eu vou acabar com ele!)
- Sim mamãe, claro que irei proteger a casa.
- Espere, você precisa de algumas armas, sabe como é né?
Ela foi em direção ao armário e pegou o maior garfo da casa, aquele que ela, o papai e todas as pessoas grandes usavam e me entregou e foi assim que eu me senti mais poderoso. A mamãe parou por um instante em frente à geladeira. Ela demorou tanto para abri-la que eu mesmo pensei em fazê-lo. E foi então que ela pegou um prato com algo vermelho-alaranjado e jogou na minha frente.
- Como é o nome do covarde inimigo, senhorita?
- Caqui, vossa alteza.
Que nome feio – pensei. Entretanto, nada era tão feio do que a sua figura e acho sinceramente que não estou com vontade de comer sobremesa.
- Filho...
- Só estou me concentrando, não sou covarde.
Minha estratégia foi abaixar o braço rapidamente para que o inimigo não fugisse e quando as pontas do garfo foram gravadas nele eu senti aquele corpinho rachando e fazendo barulho de algo gosmento e quando eu levantei o braço ele já não tinha mais vida e então eu disse a frase mais época de todas as guerras travadas entre vilões e super-heróis.
- Eu vou acabar com você!
Nota da autora: E foi assim que todas as crianças aprenderam a comer frutas.
Nota de Joãozinho: (Gosmentas ou não)
Nota da autora: Nem sempre...
Seu estilo serelepe e pueril alegra qualquer um. Consegue compreender como poucos a magia de uma visão infantil. Parabéns!
ResponderExcluirMuito inteligente o contexto do texto.
ResponderExcluirAmei aqui, ti sigo
Beju
http://nathydorgas.blogspot.com/
Oi querida Sirlara
ResponderExcluirQue delícia de "era uma vez"
Me perdi em pensamentos aqui, pois tenho uma super heroinazinha que combate as forças gosmentas com destreza.
Beijos e uma semana maravilhosa pra você.
Ani
Sirlara,Bom Dia!
ResponderExcluirQue era uma vez mais linda e gostosa de se ler ;)
"então eu disse a frase mais época de todas as guerras travadas entre vilões e super-heróis."
Rendeu-me sorrisos leves!rs
Obrigada pela visita,volte quando puder!
Seu espaço é uma graça,e já sigo!
Um beijo e uma doce semana a ti!
Lindo. Confesso que antes de ler o conto fiquei meio encabulada sobre o que a imagem teria haver com o título, mas bem, tudo, certo? - rs.
ResponderExcluirHAHA, nunca tive a força de um super-herói mesmo.
kiss sweet :)
olá!
ResponderExcluirdesculpe a demora, tá tudo tão corrido aqui...rs
é um livro de poesia, como é meu primeiro, foi um mergulho daqueles!
o livro pode ser comprado no site da editora (http://www.editoramultifoco.com.br/) ou comigo mesmo (cartaspararobertoborati@gmail.com)!
beijos!
Hehehê! Divertidíssimo! A palavra "serelepe" foi perfeita, Pedro. Abraço prima!
ResponderExcluirmeu
ResponderExcluirconto dez
ritmo, não sei pq mas lembrei de meu pé de laranja lima
Seu texto me fez voltar a ser criança, ´como se eu tivesse 7 anos novamente, aquela doce infância onde tinhamos apenas que derrotar um caqui!
ResponderExcluirPerfeito, me trouxe uma alegria imensa!
Ah, que precioso esse mundo encantado que você mantém aqui no blog através de seus textos. E esse então me deu uma nostalgia, lembrei-me da infância, do colégio, dessas frutas que não dá vontade de comer e melhor: das tediosas férias.
ResponderExcluirBeijo!
Muito bem colocado...beijo Lisette.
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