Eu
tenho 99 anos e estou na flor da idade. Ainda tenho dentes na boca, um coração
batendo e um monte de alegria para negociar, por que se tem uma coisa que eu
aprendi nessa vida é que a gente não dá, a gente troca. Bom, hoje eu venho
contar uma triste revolta. Eu fico impressionada como que ainda tem gente em
pleno século XXI que ainda não sabe ler.
Eu estava dando mais uma volta hoje cedo, olhando as ruas, os carros coloridos,
as pessoas que correm tanto... Eu não sei para onde correm, por que correm, e nem
COMO correm, menina! Pois bem, me lembrei, meu amores, que hoje era o dia que
saia a tal da aposentadoria, pensei logo “É hoje!”. Já estava imaginando para
onde eu iria com aquele voluminho entre os seios... Iria ao salão, comprar
maquiagem, fazer as unhas, comprar o perfume que o meu veinho endoida e, é
claro, aquele docinho de goiaba. Pois bem, entrei no caixa da plaquinha com meu
compadre com uma bengalinha e cheguei para pegar o tal dinheiro naquela máquina
– Máquina inteligente! - pensei. Aperta ali, mexe ali, abre a bolsa, aperta as
letrinhas, olha pro lado pra ver se não vem um bandido, fecha a bolsa, enfia o
cartão e pronto: A máquina não sabe ler... Como assim? Como assim nossa senhora
de todos os santos? Em pleno século XXI... Os homens não levam jeito para a
modernidade...
