segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

De tudo ao meu amor serei atento

Uma cama de solteiro, cabeça lado a lado, braços sobrepostos e sorrisos trocados. Ora, haverá sempre de caber mais um aqui – pensei. Meus pensamentos contemplam aquele seu olhar que do contrário do meu, sem sono, observa tudo com muito atento. Os meus olhos, minhas orelhas, meu nariz... Olha meus lábios enquanto acaricia meus cabelos e desmancha meus cachos.

Eu sussurro para o travesseiro como se você ainda estivesse aqui, como se ele fosse você.  Eu o abraço como se ainda existissem os seus braços aqui. Sorrio, conto histórias mescladas de palavras depravadas, como se sua presença serena e risonha ainda estivesse aqui. Acordo na calada da noite e digo – Vou fazer um xixi, já volto, meu bem!  Acordo cedinho para preparar o nosso café, mas a segunda xícara se esfria enquanto eu começo mais um monologo...

Eu juro que preferiria que o seu corpo fosse tão presente quanto a sua ausência, mas agradeço um dia poder ter sussurrado em seu ouvido, abraçado os seus braços, pelas horas e horas de casos e histórias contadas, pelas acordadas na madrugada, por contemplar o seu sono mesmo hesitando por um instante antes de fazê-lo por causa dos pés gelados doidos para se enfiarem nos cobertores só para olhar mais uma vez o seu sono... Agradeço pelos cafés gostosos e sonolentos em que mesmo que eu ainda falasse muito você ficava ali sorrindo com os olhinhos em lua minguante sem graça e pensando “Essa criatura, certamente, não tem fundo para tanta conversa!” e então as xícaras terminavam frias, mas vazias.


"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento."

(Vinicius de Moraes)