Bati as botas na madrugada de
terça-feira. Por bom comportamento fui para a abóboda celeste. Composições de
Mozart, anjinhos dançando, algodão-doce por toda parte. Realmente, eu só
poderia estar no céu! Por aquele momento me contentei em andar serenamente por
aquele cenário divino. Do lado direito havia uma fila enorme e algumas setas flutuantes, me aproximei de uma pessoa e perguntei o que seria aquele fila enorme e porque que
haveria de ter fila no céu! Ela me disse que eu deveria entrar ali para
conversar com Ele. Era a fila para o tal juízo final. Indigne-me! Fui até a
frente para saber que falta de delicadeza era essa. Chegando no portão havia
uma placa com as seguintes informações:
SE FOI-SE NA SEGUNDA,
AGUARDE CINCO DIAS
SE FOI-SE NA TERÇA,
QUATRO
SE FOI-SE NA QUARTA,
APENAS TRÊS
SE FOI-SE NA QUINTA,
MAIS DOIS
SE FOI-SE NA SEXTA,
ATÉ AMANHÃ.
Cacildes! –
falei – que isso, meu deus? - Deus só atende nos final de semana! – respondeu
bravamente o senhor barbudo a minha pergunta retórica. Bom, fazer o quê? O jeito é esperar a foice daqui quatro. Dia um, dois,
mais um e chegou sábado. A fila já estava quase que voltando para a terra de novo,
as conversas eram rápidas e a gente só via uns aparatando e outros sendo
levados pelos anjinhos. Já era quase segunda-feira
quando chegou a minha vez.
- Olá!
- Seu nome não é bíblico, você
não rezou todas as noites... Disse mais de mil vezes palavrão e me acordava sem
parar falando “meu deus, meu deus, meu deus”...
- Sim...
- Não dava dízimo à igreja, não ia à
missa, só leu a bíblia em latim porque foi avaliação obrigatória na escola,
fazia músicas, mas nenhuma foi em minha homenagem, não casou na igreja...
- Claro! Era caro, eu queria ir
para o Caribe na lua de mel.
- Enfim, quer que eu continue?
- Não precisa não.
- Então pode ir por aquela porta
ali.
- Sim, mas me diga só uma coisa.
Porque você não atende durante a semana?
- Oras, só para variar, dois dias de trabalho e cinco de descanso.
P.s.: Devo ter algum problema para sonhar uma coisa dessa.