sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quem faz o som, o conto e o de fadas

        
       Abri a geladeira para pensar e a fechei. Abri a geladeira para me distrair e bati a porta. Abri a geladeira pra passar a raiva e arranquei a porta. Haja porta nessa terra de meu Deus ou um copinho que caiba esse monte de nota: é fá com lá, o dó com si, mi com ré. Agora imagina se o fá fica com o dó e deixa lá o ré? Até eu ficaria com dó.
        À parte, deixe a música para mais tarde, é de presar no momento a porta. Foi por causa dela que ele entrou e foi aí que eu o pedi uma canção. Abri a porta da frente ele veio de lado me deu um sorriso e pediu o espaço. Ele é um folgado - pensei - passei a mão na vassoura e coloquei atrás da porta e a danada voou... Eu quis te conhecer pela canção, mas tive que aceitar ver em cada nota eu e tão pouco de você.
        A maçaneta sorriu e me disse para não me preocupar, que era tudo uma questão de tempo e, com uma varinha me lançou o feitiço dos sete minutos, era fá sustenido maior, sol menor com sol, dó na sétima, ré, lá com baixo em lá, mi, si, mi.. O fá me jogou um balde na cara e levou a vassoura, o sol me deu o brilho dos olhos e o ré me puxou para trás. As quatro últimas me contaram a história da Cinderela, digna de cinema, e o lá sorriu da minha cara de desacreditada e me deu um vestido. Decorei meus cabelos com as que faltavam e nos pés a clave de sol.
        Ele entrou e passou as mãos pelos meus pés e guardou as claves dizendo que era para eu não correr - consenti. Assoprou meus cabelos e elas pularam ao mesmo tempo dando piruetas pelo ar, fechei os olhos e quando os abri novamente seus dedos despejavam as últimas notas sobre meus pés descalços. Maçaneta, maçaneta, você sempre tem razão – disse olhando para a cara da danada e ele com a cara de quem não entende nada. Terminei o som e me desculpei com a geladeira. 



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¹ Quem faz o conto, o som e o de fadas (não é propaganda enganosa rsrs)


domingo, 15 de janeiro de 2012

Vitamina de banana é muito bom, é muito...


    

           Faltava era espaço para ar no meio daquele suspense calado de perto angustiante e de longe esperançoso. A gente não sabia quanto tempo tinha durado desde o chamado para o lanche até o momento do lanche. Eu nunca precisei falar muito para que meu irmão me entendesse e vice-versa, só um olhar era o necessária para sabermos que compartilhávamos do mesmo medo do mesmo fato que se repete até nos dias atuais. E tudo começava assim: Será?
       Será que teremos o quê para o lanche? Já me surgia a interrogação quando subia aquele grito materno que vinha da cozinha. Eu já colocava minha cara mascarada de pré-fezes “Será?”, então eu olhava para o lado e lá estava ele com a cara do mesmo será e com um quê de convite. Vamos? A gente sempre ia e estava tudo lá tudo arrumado em cima da mesa, tantos os copos quanto o pacote de bolacha recheada no qual seria repartido ao meio e o biscoito ímpar seria friamente dividido em dois e, é claro, a vitamina de banana com chocolate em pó. O sorriso materno e o braço apressado colocou a vitamina nos dois copos em cima da mesa, primeiro o compridinho, segundo o quadradinho e então a cena do suspense, ou do crime, se materializava.
        Eu já olhei para o compridinho com a mesma esperança que meu irmão, sabíamos que se houvessem pedaços inteiros de bananas certamente estariam no último copo de vitamina e nem eu e nem ele queríamos correr o mesmo risco, a gente não sabia por quanto tempo ela teria batido a vitamina. Eu passei os dedos pelo copo compridinho antes que os pensamentos me fizessem desistir da vitamina, ela jamais fora ruim e é por isso que sempre valia a pena tomá-la mesmo correndo o risco. E lá estava ele, meu irmão, o meu parceiro de vitaminas com o rosto desapontado e eu com a esperança nas mãos e a tristeza de não poder fazer nada por ele. Dominados pelo momento, sabíamos que não tínhamos outra coisa para fazer se não beber e bebemos. A cena do copo nos lábios só durou até encontrarmos, igualmente, os benditos pedacinhos de bananas... Fechamos os olhos para a vontade do “voltar tudo” passar e nos encontramos com o mesmo bigodinho de leite e o mesmo sorriso que dizia que não tinha sido dessa vez a vitamina perfeita.
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¹Essa não é uma história de ficção.
²Blog está de juba nova, critique (ou não) você também! ;*