Abri a
geladeira para pensar e a fechei. Abri a geladeira para me distrair
e bati a porta. Abri a geladeira pra passar a raiva e arranquei a
porta. Haja porta nessa terra de meu Deus ou um copinho que caiba
esse monte de nota: é fá com lá, o dó com si, mi com ré. Agora
imagina se o fá fica com o dó e deixa lá o ré? Até eu ficaria
com dó.
À
parte, deixe a música para mais tarde, é de presar no momento a
porta. Foi por causa dela que ele entrou e foi aí que eu o pedi uma
canção. Abri a porta da frente ele veio de lado me deu um sorriso e
pediu o espaço. Ele é um folgado - pensei - passei a mão na
vassoura e coloquei atrás da porta e a danada voou... Eu quis te
conhecer pela canção, mas tive que aceitar ver em cada nota eu e
tão pouco de você.
A
maçaneta sorriu e me disse para não me preocupar, que era tudo uma
questão de tempo e, com uma varinha me lançou o feitiço dos sete
minutos, era fá sustenido maior, sol menor com sol, dó na sétima,
ré, lá com baixo em lá, mi, si, mi.. O fá me jogou um balde na
cara e levou a vassoura, o sol me deu o brilho dos olhos e o ré me
puxou para trás. As quatro últimas me contaram a história da
Cinderela, digna de cinema, e o lá sorriu da minha cara de
desacreditada e me deu um vestido. Decorei meus cabelos com as que
faltavam e nos pés a clave de sol.
Ele
entrou e passou as mãos pelos meus pés e guardou as claves dizendo
que era para eu não correr - consenti. Assoprou meus cabelos e elas
pularam ao mesmo tempo dando piruetas pelo ar, fechei os olhos e
quando os abri novamente seus dedos despejavam as últimas notas
sobre meus pés descalços. Maçaneta, maçaneta, você sempre tem
razão – disse olhando para a cara da danada e ele com a cara de
quem não entende nada. Terminei o som e me desculpei com a
geladeira.
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¹ Quem faz o conto, o som e o de fadas (não é propaganda enganosa rsrs)